Neste dia 26 de maio entidades conservacionistas do Brasil e do mundo como @projetolontraekko, @projetolontraviva, @otterspecialistgroup e @iosf_otters comemoram o Dia Mundial da Lontra. E nada melhor do que este dia para elucidarmos algumas questões sobre conservação da água, uso sustentável do solo, reflorestamento, luta contra a implantação de novas hidrelétricas no Rio Itabapoana e a conservação das espécies selvagens dos habitats terrestres e aquáticos desta bela Bacia Hidrográfica.
A lontra nos alerta sobre tudo isso e nos permite refletir sobre o futuro da sagrada Natureza que nos sustenta desde os primórdios e mesmo assim é maltratada, tanto em seu elemento Terra como no elemento Água.
Primordialmente os índios Purís que habitavam esta região as chamavam de Banara, sendo seus demais nomes populares conhecidos como Lontra, Lontra Neotropical, Lobito de rìo (espanhol), Nutria (espanhol), Neotropical otter (inglês) (Imagem 1).
Chamada de Lontra longicaudis[Autor des2] (Lontra de cauda longa) pela ciência (Imagem 2), esta é a espécie com maior amplitude de território dentro das américas (Imagem 3).
Em biomas com mais recursos alimentares como o Pantanal e Amazônia, ela divide território com a maior lontra do mundo, a Ariranha (Pteronura brasiliensis[Autor des3] ).
Ao lado dos jacarés, as lontras neotropicais são predadores do topo da cadeia alimentar de águas doce e salobra na maior parte do Brasil, sobretudo no Rio Itabapoana. Altamente adaptados às condições aquáticas, estes animais possuem corpo longo, cauda levemente achatada e membranas entre os dedos, não podendo viver sem a presença deste elemento (Imagem 4).
Apesar de resilientes, estes carnívoros considerados semiaquáticos vêm sofrendo sérias baixas em suas populações devido à perda do habitat causada pelas atividades humanas e são considerados Quase Ameaçados de extinção segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Se alimentando preferencialmente de peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostins) (Imagem 5), as lontras se apresentam como "animais sentinelas" para estudos da ecologia de ecossistemas hídricos de Bacias Hidrográficas, sendo assim capazes de nos fornecer informações de longo prazo acerca da qualidade da água que abastecem os povoamentos humanos e sua biodiversidade.
Devido à degradação ambiental das nascentes, córregos, rios e zonas ripárias (ver post sobre vegetação ripária) do Noroeste Fluminense, as fontes alimentares originais destes animais são cada dia mais escassos (Faber-Lopes,Thomé & Silva 2020). Além do mal uso e conservação do solo muito comuns na região, a construção de barragens para Usinas Hidrelétricas ao longo do Rio principal, influenciam a dinâmica de reprodução da biodiversidade aquática (insetos aquáticos e peixes) até mesmo em seus córregos, pois impedem também a migração de muitas espécies de peixes que alimentariam as lontras do Itabapoana.
Dessa forma em tempos de escassez hídrica e alimentar, resultantes dos fatores acima, elas procuram os açudes de peixes mais próximos aos rios (Imagem 6), muitas vezes gerando conflitos com os criadores que podem culminar em seu abate e/ou são atropeladas em suas longas buscas por alimento fora dos rios e córregos (Imagens 7,8) Precisamos de ações de conservação e restauração dos ecossistemas, além de práticas em mitigação de atropelamentos, para que estas Sentinelas das Águas não alcancem o status de Ameaçados.
O futuro destes animais está em nossas práticas do dia-dia sobre Consumo Consciente e Ações que respeitam e preservam toda a Natureza ao nosso redor. Referências: Imagem 1- Ilustração científica da Lontra longicaudis adaptada de DUPLAIX, N. & SAVAGE, M. The Global Otter Conservation Strategy. IUCN/SSC Otter Specialist Group. Salem, Oregon, USA, 2018.
Imagem 2- Registro de câmera trap de indivíduo escavando banco de areia para se alimentar em córrego afluente do Rio Itabapoana.
Imagem 3- Mapa da distribuição geográfica da Lontra longicaudis: https://www.otterspecialistgroup.org/osg-newsite/otr_species/neotropicalotter_lontralongicaudis/
Imagem 4- Características anatômicas da Lontra: NAVARRO, M. A. Ocorrência e dieta da Lontra Neotropical, Lontra longicaudis (Olfers, 1818), em dois rios do Parque Nacional de Saint-Hilaire/lange, Serra da Prata, Paraná. Dissertação de Mestrado. Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná. Curitiba- PR, 2015.
Imagem 5- Dieta da Lontra: https://lontrasclub.blogspot.com/2010/09/cadeia-alimentar-das-lontras.html
Imagem 6- Indivíduo entrando em açude (parte preta da foto) localizado à 100 m do córrego.
Imagem 7 - Dois indivíduos atropelados simultaneamente em trecho com açudes às margens da rodovia RJ-186/B-484, 900 m do córrego mais próximo.
Imagem 8 – Registro do indivíduo marcado com a seta em vermelho na foto anterior.
Texto e imagens fotográficas: Lênim Faber Lopes
Faber-Lopes, L. Thomé, M.P.M. & Silva, I.B. Resiliência de Lontra longicaudis (Olfers 1818) Carnivora-Mustelidae em agroecossistema convencional do Sudeste Brasileiro. Congresso Internacional de Ecologia On-line. 2020.
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